Luiz A. Sacchetto
Seguros Unimed – Previdência Privada
Uma ótima pergunta!
Sexta-feira passada (14/02) o Banco Central divulgou o índice IBC-Br (uma espécie de prévia do PIB) indicando que a atividade econômica em 2019 cresceu 0,89%. No início de janeiro o IBGE já havia divulgado dados fracos para indústria, comércio e serviços. Essa sequência de indicadores colocou um pouco de água fria no otimismo para 2020.
Mas afinal, por que a economia do Brasil não decola? O Brasil está crescendo, só não vê quem não quer enxergar. Só que o ritmo e a intensidade está aquém do que o país precisa (ou queremos).
Não dá para dizer que a economia não cresce porque a taxa de desemprego é alta. Certamente não ajuda, mas não é isso impede um crescimento mais vigoroso. Vivemos o dilema das bolachas Tostines. É fresquinho porque vende mais ou vende mais por que é fresquinho? Em economês a taxa desemprego é alta por que a economia não cresce ou a economia não cresce por que a taxa de desemprego é alta? São variáveis que estão conectadas e que se retroalimentam. A taxa de desemprego não é causa e sim efeito. A elevada taxa de hoje é fruto das políticas econômicas dos governos passados especialmente da era Dilma que fez explodir o desemprego.
Agora o Brasil está, ainda que lentamente, revertendo o desemprego para que tenhamos num ciclo virtuoso. Em outras palavras dizer que a economia não cresce porque o desemprego é alto não é uma causa estrutural e sim o efeito (ou consequência) resultante de anos de políticas macroeconômicas equivocadas.
Também não dá para dizer que choques externos impedem que o Brasil cresça. Obviamente que a guerra comercial EUA x China, a crise EUA x Irã, Brexit da Inglaterra e o coronavírus, apenas para citar os mais emblemáticos, não ajudam e podem interromper ciclos vigorosos de crescimento econômico. Num mundo globalizado o que acontece lá fora afeta o Brasil. Se a economia global não cresce ou cresce pouco como agora não ajuda. Se o mundo cresce vigorosamente será um acelerador, mas não um fator determinante para o crescimento estrutural da economia brasileira. O mundo pode ter um crescimento vigoroso, mas se a economia do Brasil estiver estruturalmente desarrumada não teremos um crescimento igualmente vigoroso.
Mas afinal o que faz o Brasil não crescer com mais vigor? A razão fundamental é que o Brasil está num processo de mudança da sua matriz de crescimento. De 2003 a 2016 o Brasil tinha sua matriz de crescimento baseada nos gastos e investimentos públicos. O Estado deveria ter uma forte presença na economia e dele deveria vir a maior contribuição para estimular o crescimento econômico. O que se viu foi um elevado crescimento da máquina pública, um aumento desordenado de gastos e investimentos públicos e forte viés intervencionista na economia.
A resultante de tudo isso foi um orçamento preso por gastos obrigatórios, baixo investimento, aumento exponencial da dívida pública, inflação que bateu dois dígitos, taxa Selic que foi de 7,25% para 14,25% e a economia entrou em acentuado declínio. Os últimos dois anos do Governo Dilma o PIB foi negativo em 6,98% (2015, -3,55% e 2016, -3,31%). Reverter esse quadro não é tarefa fácil e rápida de fazer.
Agora o Brasil passa por um processo difícil de mudança da sua matriz de crescimento. A atual política macro e microeconômica segue na direção de reduzir o tamanho da máquina pública, menor intervencionismo na economia, implementar programas de desestatização (concessões e privatizações), redução da dívida pública, maior equilíbrio orçamentário e promover reformas (previdência, administrativa e tributária). Em outras palavras são medidas e políticas que visam aumentar a participação da iniciativa privada no PIB, promovendo maior liberdade econômica e direcionar as ações do Estado para as atividades essenciais como saúde, educação e segurança. Um país que passou anos e anos fortemente dependente dos gastos e investimentos públicos para crescer, se vê agora no desafio de encontrar novos caminhos para estimular o crescimento econômico. Uma mudança que leva tempo para oferecer resultados mais robustos.
Essa é a razão fundamental que tem feito a economia crescer em ritmo lento. No entanto o Brasil está crescendo, de forma sustentável e sem artificialismos. Ao longo de 2019 cresceu o otimismo com o crescimento do Brasil. E tudo indicava que o exterior iria ajudar, principalmente, após a acomodação da guerra comercial EUA x China.
Essa perspectiva otimista está refletida no excelente desempenho dos nossos fundos de previdência. Em 2019 o RV15 fechou com rentabilidade de 263% do CDI é o RF100 de 147%do CDI. Em 2020 seguimos com os fundos apresentando boas rentabilidades. Até o dia 13/02 o RV15 entregou uma rentabilidade de 298% do CDI e o RF100C com 145% do CDI. Como referencia a Bolsa apresentou variação de 0,01% no mesmo período. Esse dado é particularmente importante para reafirmar o ótimo desempenho do RV15 em 2020 onde a gestão da porção de renda variável tem gerado resultados muito superiores a média do mercado de ações.
Será sempre assim? Não será. Teremos um 2020 bem diferente de 2019. Veremos muito mais volatilidade e aumento no balanço de riscos. O coronavírus trouxe um novo componente de risco que nenhum analista sequer imaginou. Aliás, eventos epidemiológicos em escala global são impossíveis de prever. É exatamente isso que vem deixando os mercados tensos. Os mercados globais sabem lidar muito melhor com crises do que com incertezas. Infelizmente ainda estamos muito longe de controlar o surto e de conhecer seus impactos para a economia global.
A mudança estrutural na matriz de crescimento que está em curso fará com que a economia do Brasil siga construindo bases mais sólidas e sustentáveis para crescer. Os resultados já começam a aparecer. Quanto ao coronavírus já se tem boas notícias no combate ao surto. São 5.911 pacientes curados com as novas técnicas de tratamento e coquetel de medicamentos utilizados no combate de outras doenças virais. A própria OMS (Organização Mundial da Saúde) comunicou que a infecção pelo coronavirus está controlada no mundo e que não há aumentos dramáticos de casos fora da China. Sigo confiante que chegaremos ao final de 2020 comemorando bons resultados dos fundos RV15 e RF100C.